O LUXO DA FAROFA - Eguimar Felício Chaveiro

10/09/2011 12:00

        

Tenho explicitado em público a minha contenda com o ator hollywoodiano Nicolas Cage. Ele, certa vez, comprou cinco Iates; eu apenas comi farofa. Ele adquiriu uma Ilha no Caribe; se eu viajo como farofa. Ele se tornou dono de um Castelo e de uma casa Mal assombrada. Deus me livre: eu quero apenas morar num lugar que me dê farofa.

        Além disso, talvez eufórico e narcisicamente, perdido e transloucado com a dinheirama que ganhou por meio de sua participação nas películas comerciais de Hollywood, entrou numa disputa com Leonardo di Capri para tomar posse, num leilão, de um crânio de Dinossauro. Eu apenas peço a minha mãe que, aos domingos, faça farofa. Não tenho interesse por crânio de dinossauro.

        Nicolas Cage anda depressivo e triste, pois falira. Caiu dos castelos para os paralelepípedos com a mesma velocidade que tinha subido.  Já não é convidado para protagonizar os filmes de grandes bilheterias. Ao contrário, os meus amigos andam me prestigiando: me convidam para comer farofa. Diferente dele, ando alegre, entusiasmado, contente.

        Ninguém sabe ao certo a origem da farofa. Sabe-se que é uma invenção brasileira. Por certo teve a contribuição indígena com a mandioca;  e a  dos negros da Senzala com o uso dos restos de porco vindo da opulência tirânica da Casa Grande. Sabe-se que, como o Brasil, como o seu povo, como  a sua música e a como a sua alma, a farofa é feita na mistura, na transformação do pathos em ethos. Nas fendas e na criatividade. É resistência e arte.

        Mas a importância da farofa é o que ela ensina algo essencial para a vida do ser humano: a simplicidade. E fora da simplicidade, como disse Weill, não há paz. Ou como  quis o poeta Gabriel Nascente para o qual nada é perfeito, o que se aproxima da perfeição é o que é simples A farofa é simples, por isso agrega.

       No meu caso  considero a farofa um luxo: pelo seu sabor vou às origens étnicas do povo brasileiro; pela sua simplicidade enfrento o consumismo e o mercado; pela mistura em que é feita aprendo que não preciso ser idolatrado, nem ser fechado em mim mesmo. Pela alegria de degustá-la com amigos supero  a força competitiva do dinheiro. O estômago e o afeto se unem contra o dinheiro e a pose.

        Em síntese: comendo farofa e desejando comê-la não vou falir nem ficar depressivo. Comer farofa é um modo que possuo de enfrentar o império e a sua superficialidade. De reforçar a mente e de ajustá-la às minhas condições originais e primazes.

        Desta feita, farofa é  ciência, política e educação: cruzo o canto de Elis com Macunaíma de Andrade; junto Chica da Silva com Buarque; boto Garrincha como tempero ao lado de Machado. Pixinguinha e Cora. É muito saboroso. E como aprendiz da farofa devo dizer: só acredito na arte, na arte com suor.

Eguimar Felício Chaveiro
Professor Associado do IESA/UFG
Membro da Academia Trindadense de Letras