BUCÓLICAS LEMBRANÇAS - Douglas Madeira

10/09/2016 21:51

 

Quero voltar e matar a saudade do campo,  
cheirar, tocar, sentir a natureza,        
dos pássaros ouvir o doce canto,      
me encantar com toda aquela beleza.

 

Deitar no chão de macio capim verde          
quando dia, olhar por debaixo as copas das árvores
por onde a luz do sol transpassa quente, arde,         
brilha em reflexo nos cacos dos prateados mármores.

 

Por entre as raízes altas e nas pedras cheias de limo,           
me encostar para saciar a alma, me livrar de quaisquer algemas,     
me embebedar de viva literatura e dela me fazer mais íntimo,        
sentir cada verso na realidade natural, introjetar belos poemas.

 

Debruçar-me sobre a cerca que limita o penhasco    
e, de olhos fechados, prestar atenção no vento que meus cabelos abana,   
em seu suave toque me deleitar, relaxar, feito rendido carrasco     
que se cura, se recupera, de incômodas feridas urbanas.

 

Caminhar entre os troncos cinzas, cheios de lodo e envelhecidos,  
das árvores plantadas por meus antepassados,         
delas comer os frutos frescos que por tanta fartura lá esquecidos.  
Se foram eles, de bom muito deixaram, se foram, amados.

 

Depois da chuva que apaga a poeira vermelha da estrada,

sentir o aroma de terra limpa no ar,

brincar na funda e barrenta enxurrada

que desce, para onde não se sabe, se findar.

 

Apertar entre as mãos as folhas das plantas

e sentir seus diferentes perfumes,

enquanto assisto ao encontro das montanhas

com o vermelho do sol, no horizonte fazendo lume.

 

Quando noite, ouvir o silêncio absoluto,      
calmaria total, do Érebo gélida solidão.       
Turvo natural e primitivo, ininterrupto,        
ausência de artificiais ruídos, só o baixo grave do coração.

 

Ainda deitado e para cima olhando  
o manto estrelado, tapete do universo,         
visão da magnificência no natural, se ampliando     
minuto a minuto, num mundo no nada imerso.

 

Cada risca de cauda das cadentes estrelas,  
um segundo de contemplação e puro êxtase traz,    
dinâmica mira do olhar tentando abatê-las,  
isolamento do resto, de todo ele, introspecção voraz.

 

No chão, na grama, na noite, no escuro, no silêncio, ficar   
até que estes todos embora se vão no amanhecer.   
Viver mais um dia até seu último minuto, para ao chão voltar,       
me fazer novamente diminuto e da beleza dos altos me entorpecer.

 

[De tudo isso 
só lembranças passadas,       
em esforço volto ao início,    
apenas desejando buscá-las.]

 

 

Douglas Madeira dos Santos

Graduado em Direito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, campus Campinas

E-mail: douglasmadeira@hotmail.com